WHATSAPP, RELAÇÕES VIRTUAIS E A ÉTICA por Deneli Rodriguez

Hoje em dia com os aplicativos de mensagens em que todos estão acessíveis, não ter tempo para um bom dia, para uma resposta, acabou virando um problema e também uma questão ética.

Se estamos tão conectados, deixar de responder uma mensagem, diz mais sobre os valores de uma pessoa do que a função que ela ocupa. Ser ocupado já não é mais desculpa pra ninguém. O Whatsapp está a um clique, se não der pra clicar, dá pra mandar áudio, se não der pra ouvir na hora, dá pra ouvir depois, se não gosta de usar nada disso, ainda dá pra ligar! Ou seja, atende a todos os tipos de preferência. Ah, mas gosto de e-mail, muito bem, também dá pra responder em algum momento e com os atuais celulares, pode ser em uma questão de segundos. A escolha por a quem responder e em qual tempo, é de cada um. O ponto aqui é: não tem mais desculpa para não responder ou se comunicar, daí à discussão desse texto.

Aqui estamos falando sobre a pessoa que usa ainda essa desculpa: a falta de tempo ou ser muito ocupada.  Esse tipo de pessoa é essa aqui: ela está lá online respondendo a algumas pessoas e a outras não. As que ela responde são as que estão contribuindo em manter seus valores de sucesso ou que são consideradas tão importantes quanto ela (medição aqui é feita pelos valores dela de importância e relevância, quase sempre, nesse tipo de pessoa, os valores são de fama, poder de influência e sucesso) as que estão alimentando suas ilusórias identidades. A pessoa não é mais a pessoa, mas o personagem que ela criou e que gosta de ser. Ela é um personagem que se relaciona com outros personagens. Pessoas reais não tem lugar nesse mundo da fantasia. Elas são os cargos que ocupam. Quando questionadas por pessoas reais do porquê não respondem, elas nunca dizem a verdade, a resposta é sempre estarem ocupadas e sem tempo. Por que não dizem a verdade? Porque não sabem. Estão tão acostumadas a fingirem ser o que não são que não percebem quando se relacionam com pessoas reais e continuam usando os mesmos esquemas de respostas artificiais, tão artificiais quanto elas, respostas que não têm um conteúdo verdadeiro. Elas mesmas não sabem ouvir a verdade porque não sabem lidar com ela. Porque a verdade (ou alguém verdadeiro, real) aponta para algo que elas não são e não reconhecem. A verdade é para pessoas reais, não para personagens.  O falso não consegue se relacionar com o verdadeiro por muito tempo.  São dois tipos de pessoas diferentes. Uma quer ser tornar algo, a outra já é. Aquela que quer se tornar alguém vive a cultura do “tornar-se” em que a felicidade ainda está por vir, está num tempo futuro, em ser alguém, em ter, conquistar, ser aplaudido, ser reconhecido, ser famoso e importante. A outra pessoa vive a cultura do “ser” em que a felicidade e a satisfação não dependem do exterior nem está por vir, essa pessoa é feliz agora, sendo quem ela é. Claro que dá pra melhorar o exterior, atender a alguns desejos, passar por experiências que tragam prazer e felicidade, mas essa pessoa sabe o lugar de todas as coisas. Ela não confunde as experiências com o que ela é, ela não confunde o estado passageiro das coisas com ela mesma, ela sabe que está desempenhando vários papéis, mas que não é nenhum deles, ela aceita a impermanência do mundo exterior e flui nessa transitoriedade, usando essas experiências (nem sempre agradáveis), para entender mais e potencializar quem ela é. Essa pessoa sempre vai ser  honesta nas suas intenções, nas suas relações, porque ela dá valor ao que cada um é de verdade, ela sabe que há uma divindade por trás de cada personagem e tem o mesmo respeito que tem por si mesma. A outra espécie de pessoa por maior que seja o seu desenvolvimento intelectual, não tem escolha, ela só sabe ser o personagem e pior acredita que tudo vale a pena pelo o que ainda está por vir, ela vive num tempo que não existe e que pode nunca chegar: o futuro.  O futuro é um conceito intelectual. O que realmente existe é o presente. Reflitamos sobre quem somos e como atuamos nessa vida. Reflitamos se respeitamos o outro como a nós mesmos. Reflitamos se queremos ter sucesso no futuro ou se temos sucesso agora. O sucesso não é alcançar uma posição, mas estar bem e feliz com o que se é agora. Que tipo de pessoa é você? Viveremos 80 anos sendo felizes todos os dias ou somente nos dias que alcançarmos o sucesso no futuro?  Se formos felizes todos os dias estaremos fazendo (sem querer) que todos ao nosso redor também sejam felizes todos os dias. Podemos ser felizes todos os dias e ver todos aqueles que amamos felizes também. Estando satisfeitos e felizes todos os dias, influenciamos não só as pessoas que conhecemos, mas as que não conhecemos também. Influenciamos todos ao nosso redor. O poder de atração pela verdade é algo intuitivo em todo ser humano, é natural. É mais fácil ser o natural do que o personagem. Quem você quer ser? É sempre tempo de reavaliar, é sempre tempo de mudar de atitude, é sempre tempo de buscar o autoconhecimento, é sempre tempo de voltar pra casa. Tenha compaixão pela pessoa que não te responde, ela não tem escolha. Liberdade é ter escolha.

Deneli Rodriguez.


Deneli Rodriguez

Pensadora, escritora e artista. Menção honrosa Itaú Cultural com seu texto "A Menina Iluminada". Concorrente aos prêmios Oceanos e Kindle de literatura. Livros: A Menina Iluminada e A Buda. Filmes: Charlote SP, primeiro longa metragem brasileiro filmado com celular, dirigido por Frank Mora; e Deneli, curta metragem vencedor de prêmios internacionais dirigido por Dácio Pinheiro.

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