Francisco Valdomiro Lorenz, educador, místico e o maior linguista que viveu no Brasil

Hoje vou falar de um homem ímpar, ao qual estou ligado diretamente. Esse homem pegou o meu pai no colo e foi amigo pessoal e companheiro de estudos do meu bisavô, Jachinto Almeida. Curiosamente, sempre que busquei entender um pouco mais sobre espiritualidade, acabei esbarrando em Lorenz, seja no esoterismo ou até mesmo no Espiritismo, na primeira casa federada que frequentei (e que cheguei a presidir), da qual ele é considerado mentor: a Casa Espírita Mãos Unidas.  
Meu bisavô conheceu Lorenz através do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento e do Espiritismo. Assim como eu, Lorenz era capricorniano e ele faleceu, curiosamente, no dia em que meu irmão faz aniversário. Uma semana depois do aniversário do meu pai que, modéstia a parte, foi o homem mais sábio que conheci. As ligações com Lorenz são muitas. E é sobre este grande homem que hoje vou falar neste espaço.
František Lorenz ou Francisco Valdomiro Lorenz nasceu em 24 de dezembro de 1872, na aldeia de Zbislav, próxima à Cidade de Tcháslav, Boêmia, hoje República Tcheca. Foi um poliglota, um dos primeiros esperantistas do mundo, falando mais de 100 idiomas e seus respectivos dialetos. Dominava desde línguas mortas dos sumérios e egípcios, línguas indígenas e sânscrito, entre outras. Foi um grande ocultista, cabalista, iniciado, astrólogo, quiromante, ligado ao espiritismo, ao Círculo Comunhão do Pensamento, à Ordem Martinista da América do Sul, Ordem Kabbalistica Rosa-Cruz, Maçonaria, entre outras estruturas.
Lorenz colaborou até o final da vida com os cálculos do Almanaque do Pensamento, do qual foi o grande incentivador e criador. Quando morreu, deixou as 5 edições seguintes (desta publicação anual), prontas.
Lorenz vem de família pobre e mesmo assim teve acesso à educação, que acabou se tornando sua missão de vida. Filho de pai moleiro, ainda jovem já dominava  todas as línguas eslavas, latim, hebraico e grego, antes mesmo de completar 18 anos. Foi nesta idade que publicou seu primeiro livro,  em esperanto.
Vivendo sob um regime político restritivo, o seu espírito livre não poderia suportar as podas religiosas e os conceitos anti-democráticos do Governo Imperial da Áustria, sob o qual o então Reino da Boêmia estava submetido. Então, Lorenz se viu obrigado a migrar pro Brasil no ano de 1891. Aprendeu o nosso idioma durante a viagem, usando apenas um livro de gramática e um dicionário.
Lorenz morou no Rio de Janeiro, e depois em Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Escolheu para morar a cidade de Dom Feliciano, onde aportou em 1894, em plena Revolução Federalista. Neste ano, casou-se com Ida Krascheffski, uma jovem alemã que veio para o Brasil aos 7 anos de idade. Com ela, teve treze filhos biológicos e oito adotivos.
Francisco Valdomiro Lorenz era um professor apaixonado e um dos episódios mais interessantes de sua vida foi o de, nos anos 1930, negar um convite do presidente Getúlio Vargas para ser Ministro da Educação. O presidente havia ouvido falar de Lorenz em um recenseamento para avaliação da aptidão de professores. Àquela altura, Lorenz era professor de séries iniciais no Sul do RS e, durante a sabatina, foi questionado se ele dominava outros idiomas. Respondeu com sinceridade que falava mais de cem. Incrédulos, os avaliadores, que estavam em companhia de um japonês, tiraram a prova se ele realmente falava línguas orientais. E ficaram perplexos ao perceberem que dominava tanto, a ponto de identificar a descendência chinesa do interpelador nipônico.
Lorenz é um dos grandes pilares do Espiritismo no Brasil e teve publicados alguns livros via Federação Espírita, destacando “A voz do antigo Egito”.
O professor também é autor de “O filho de Zanoni”, obra que dá sequência ao célebre romance ocultista “Zanoni” (cuja a primeira tradução no Brasil foi feira por Lorenz), livro este aclamado de rosacruzes, pelo tom iniciático.
Outra obra interessante de Lorenz  é “Diálogos Iniciáticos”, que faz parte das instruções oficiais do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento.
Lorenz, além de colaborar com o Espiritismo e com o Almanaque do Pensamento, publicação que até hoje é mantida e tradicional na Editora Pensamento, é autor de obras que abordam, por exemplo,  quiromancia/leitura de mãos, e astrologia cabalística. Tinha o grau de doutor em cabala, pela Ordem Cabalística da Rosa-Cruz (OKRC), e citado na revista maçônica “União”, de outubro de 1965. Foi delegado geral do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, nomeado por seu fundador, Antônio Olívio Rodrigues, sendo colaborador e por um tempo Editor da Revista Pensamento, a primeira publicação esotérica regular do Brasil.
Lorenz também traduziu do indiano o Bhagavad Gita e esteve presente no primeiro  Grupo Independente de Estudos Esotéricos do Brasil. Também escreveu livros sobre homeopatia, hermetismo, remédios caseiros e tantas outras.
Na cidade de Porto Alegre, há uma Loja Maçônica que leva seu nome, filiada do Grande Oriente do Rio Grande do Sul – GORGS.
Por fim, desencarnou no dia 24 de maio de 1957, às 13 horas, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, adentrando no Grande Oriente Celestial.
O Legado de Lorenz
Ao longo de sua vida, publicou mais de 36 livros em 40 línguas. Entre estes estão:
  • Contos e Apólogos, Editora Pensamento, 1918, São Paulo
  • Chamas de Ódio e a Luz do Puro Amor, (Vida de João Huss), Ed. Pensamento, 1940, São Paulo.
  • O Filho de Zanoni, Ed. Pensamento, São Paulo
  • Moises e Siphorah, Poema épico da vida de Moises e sua mulher Siphorah, Ed. “Pensamento”, 1920, São Paulo
  • A Sorte Revelada pelo horóscopo Cabalístico, Ed. Pensamento, 1926, São Paulo.
  • O Jardim da Alma, Ed. Pensamento, 1937, São Paulo
  • Raios de Luz Espiritual – Ensinos Esotéricos, Ed. Pensamento, 1949, São Paulo.
  • A Voz do Antigo Egito, Ed. FEB, 1946, Rio de Janeiro
  • Diálogos Iniciáticos, Ed. Pensamento, São Paulo
  • Kabala, Ed. Pensamento, São Paulo
  • Esperanto sem Mestre, Ed. FEB, Rio de Janeiro, 1938.
  • Minhas Memórias, manuscrito deixado em tcheco, não editado.
  • A mentalidade Ameríndia,1937
  • Iniciação Linguistica, 1929
  • Receituário dos melhores remédios caseiros
  • Estenografia Ideal, 1920

Diego Franzen

Jornalista e Escritor, nascido na cidade de Cruz Alta RS e residindo em Bento Gonçalves RS. É autor dos livros "Tempora Hostem", um romance policial e esotérico ambientado na Serra Gaúcha e de "Lendas Urbanas de Cruz Alta", uma coletânea de fatos pitorescos ocorridos em sua cidade natal. Atualmente trabalha no romance "A Pedra Oculta", que é ambientado no Rio Grande do Sul no período da Revolução Federalista.

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