Stress: como usá-lo a seu favor

A história começa com uma gravidez complicada. Uma não: dez. Dez ratas prenhas entregues aos cientistas da Universidade da Pensilvânia na Filadélfia, EUA. E como as roedoras sofreram nas mãos deles… Ao longo dos primeiros dias de gestação, passaram todas as noites em claro – literalmente, com as gaiolas iluminadas o tempo todo.

Não bastasse a privação do sono, havia uma iminente ameaça, embora invisível, sempre por perto: um cheiro forte de raposa rondava o laboratório. Sentiam medo de ser devoradas. Viveram sete dias intensos, cheios de stress (ou “estresse”, como se diz em português, mas preferimos aqui a grafia consagrada), com os fetos lá dentro, absorvendo toda aquela carga de tensão.

Duas semanas depois, todos eles nasceram aparentemente saudáveis. Mas mal haviam dado o primeiro suspiro fora do útero e já sentiram o stress na barriga. Bem lá mesmo, na flora intestinal.

Por lá, viviam menos lactobacilos (as bactérias do bem que protegem o organismo e ajudam a sintetizar vitaminas) do que a média geral – os cientistas também testaram filhos de mães não estressadas. E isso mudava o jogo: a composição do sangue continha nutrientes diferentes, que prejudicavam a formação de neurônios e neurotransmissores. Os pobres filhotes se deram mal – tudo culpa da mãe.

Ou melhor: do stress – o mal do mundo moderno. Se a rata era capaz de passar o nervoso aos fetos, com humanos provavelmente funcionaria do mesmo jeito. A mídia comprou a história e destacou nas capas dos portais: “stress passa de mãe para filho durante a gestação”. Acusado e condenado, o vilão somou mais um motivo para ser o inimigo número um da humanidade.

E a lista é bem longa: o stress é acusado de acabar com a vida de 110 milhões todo ano, por estimular infartos, acidentes vasculares-cerebrais, depressão etc. Nos EUA, ele é mais mortal do que o diabetes ou o Alzheimer, e suga US$ 190 bilhões por ano só de cidadãos estressados com o trabalho, em contas médicas.

Por aqui a situação também não é das melhores: a Associação Internacional do Controle do Estresse colocou os brasileiros como o segundo povo mais estressado do mundo (atrás dos japoneses), por causa de problemas profissionais. De acordo com o Instituto de Psicologia e Controle do Stress, em pesquisa realizada com mais de 2 mil pessoas, apenas 12% delas classificam o próprio stress como saudável – outras 33% acreditam que se estressam em excesso.

E é assim que a maior parte das pessoas lida com ele: enxerga-o como um problemão, um atraso de vida, algo a ser evitado a todo custo.

Felizmente, novas pesquisas científicas apontam que esse é só um pedaço da história – e que dá para se beneficiar (e muito) com o stress. Conheça o stress do bem.

No princípio, era o stress

O stress é mais velho do que o ser humano. Nasceu logo com os primeiros organismos unicelulares, há bilhões de anos, no meio do oceano. Naquela época, ele era apenas a resposta fisiológica a uma mudança física externa. Diante das oscilações ambientais (pressão, temperatura da água, presença de toxinas), o organismo precisava manter o equilíbrio interno e bastava acionar as proteínas certas para a situação se normalizar.

Isso era stress: a reação a um desequilíbrio causado por fatores externos. Só algumas centenas de milhões de anos depois, quando a vida na Terra começou a ficar mais complexa e emocionante, com caçadores e predadores rondando à solta, é que ele passou a funcionar como uma resposta hormonal a alguns tipos de ameaças.

Foi quando os bichos começaram a sentir medo e o stress ganhou uma denotação negativa – em resposta aos perigos, o organismo desenrolava uma série de reações que alteravam todo o funcionamento do corpo.

A diferença entre nós e outros animais é que só os seres humanos têm a proeza de transformar uma ideia meramente imaginária em ameaça real, com todas as reações fisiológicas do stress. Um ratinho só vai se estressar se realmente sentir a presença de um gato por perto. Mas nós, de capacidade cognitiva um pouquinho maior, conseguimos imaginar a presença de um gato – e se estressar antes mesmo de ele estar por perto.

“Distorcer o stress a ponto de fazer mal é algo unicamente humano, no qual emoções e pensamentos exercem uma influência poderosa, para o bem ou para o mal”, conta o neuroendocrinologista Bruce McEwen, no livro The End of Stress as We Know It. “Penso, logo existo” faz todo sentido no caso do stress.

Em excesso, essas reações sobrecarregam o organismo e fazem mal mesmo, principalmente ao sistema cardíaco. Só que há um exagero generalizado: com a ajuda da ciência e da mídia, o stress virou sinônimo para qualquer dificuldade da vida, e algo a ser temido. Isso porque as pesquisas focam muito mais no lado negativo do stress.

“A verba é limitada e, compreensivelmente, acaba sendo destinada às pesquisas mais propensas a aliviar o sofrimento humano”, diz McEwen. “E é mais fácil estudar algo que deu errado, com exames de sangue, questionários psicológicos e uma comparação com pessoas saudáveis. Mas por onde você começa se tenta estudar por que alguém está saudável? Quais perguntas e testes você faz?”

É esse arsenal de resultados negativos que sai na mídia, como a pesquisa com ratos feita pelos cientistas da Pensilvânia. Tudo bem, o stress pode mesmo funcionar de maneira semelhante entre humanos, como uma herança cruel deixada pela mãe.

Mas os animais testados sofreram ameaças reais – medo de serem devorados o tempo inteiro, sem dormir direito – durante um terço da gestação. É muito perigo junto. Não foi um stress passageiro, uma ansiedade por conta de uma apresentação pública ou coisa assim. Quantas gestantes passam por uma situação tão difícil como essa? Pouquíssimas. Não há por que se preocupar – pelo menos não com essa notícia.

Fonte: Superinteressante


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